Feline casanova

Mamãe ligou dizendo que a gata está ótima, que corre pra lá e pra cá e que se esparrama no chão para ficar com a barriguinha pra cima. 

Ela é tão fofa!

Essa sensação toda de liberdade que a gata teve é o que a gente devia sentir, e não sente.
 
Ela está livre para subir e descer as escadas. Livre para correr. Livre pra ser feliz. Ela é livre. Livre como eu queria ser...

Are You Mine?


Nescafé

(A fotografia do clipe, a letra, a banda... tudo, tudo me fascina!)

Eu cuspo nescafé e você chora leite de manhã
Amarro o meu sapato e tu veste o sutiã
Cadê o nosso amor? me diz onde, vou correndo pegar o bonde
Que linha liga o teu coração ao meu?
Almoço minha angústia e tu ri com a cara na tv
Eu tomo um conhaque e tu fala em ter bebê
Remenda o meu sorriso e, sorrindo, me costura mais uma ruga
Desfaz a casa que casa com o meu botão
Me esqueço em pensamentos e tu cobra um pouco de colchão
Respondo qualquer coisa e tu solta a minha mão
Coloca teu calor na estante, vem, se deita tranquila e dorme
Em que sonho eu sonho meu sonho igual ao teu?
Que linha liga o teu coração ao meu?
Em que tronco encontro talhado o meu nome e o teu?
Em que sonho eu sonho o meu sonho igual ao teu?
O meu coração ao teu, teu nome talhado e o meu
Meu sonho, meu sonho

Ditado

É aquele ditado: você não consegue fazer omelete sem quebrar alguns ovos. E nessa distopia toda em que vivo, eu sempre acho que poderia ser alguém melhor. Alguém livre de preocupações ou simplesmente alguém que mantém longe as coisas erradas da vida. Ao que me parece, eu vivo guardando segredos pelos cômodos da casa. Guardo bilhetinhos antigos nas gavetas do criado-mudo. Muitas cartas não abertas, muitas canetas jamais usadas... E viver nesse mundo distópico me faz brisar no tempo. Diariamente, a dor na coluna vem juntamente com os filmes repetidos, a manteiga quase acabando e o pão velho. A geladeira mais vazia que o meu próprio peito, que esvazia pouco a pouco com a desesperança e o sentimento de que nasci para ser/estar só.
Esperar é mesmo o meu carma.
Inobstante à minha forma de agir com as situações, acredito que estou dissolvendo. 
Trocar a toalha, álcool nos vidros, aspirador de pó.
Cotonete como um pequeno prazer diário.
Conversar sozinha.
Esvaziar o copo.
Nadar.
É tudo e é bem cheio de nada, como sempre.
E é nessas horas que você não sabe o que fazer consigo.
E tem nome?

Pode...

Se faz de forte e enxuga estas lágrimas. Escreva com o português errado e enxugue estas lágrimas. Suspende tudo até que a vida entre nos eixos e nem vem com essa de "nada é pra agora". Chega desse papo, não sou assim, nem sou assado. Nunca quis, nem provei nada que me deixasse em dúvida.
Pode ser mais um daqueles casos bizarros de pessoas que dão a volta ao mundo para se reencontrar depois de anos. Pode ser com 80 anos. Pode ser ano que vem. Pode até nunca ser.

Pode virar música do Roberto Carlos.
Filme de Woody Allen.
Música da Cher.
Ou pode dar em nada.
Pelo menos aconteceu e pelo menos aconteceu uma vez na minha vida.

Eu sei como é...
Vai passar. 
Vai ficar tão liso como uma camiseta branca no ferro quente.
Mas daí eu amasso tudo outra vez.
E é assim que a vida segue "até que elas (as vidas) possam se cruzar direito".
Ou nunca mais.
Ou cedo, tarde demais.
Tenho medo...
Ai, como é foda.

"Pelo menos desempaca, é melhor. Você se envolveu demais. Mas você sabe como é, vai passar..."

Assim espero

Oh, que bom que respondeu...
Estou de folga, vou passar horas estudando, mas estou aqui. Espero que dê pra gente conversar... 

Espero que dê pra gente falar tudo que não disse até agora e que tomemos um rumo.

Essa é a minha maior função: esperar.
Desde o meu primeiro blog tenho esperado por algo.
Que não sei o que é.

Então,
Assim
Es
Pe
Ro.

Voltar a ser

Desde que comecei a frequentar as reuniões do budismo, tenho me sentido uma pessoa mais animada com a vida e mesmo que eu tenha vivido por 26 anos sem acreditar em absolutamente nada, acho que é realmente a hora de começar a procurar algo para ter como refúgio. Escolhi o budismo porque sempre admirei, mesmo não acreditando. Admiro a forma como encaram as situações e também a ausência de "imagens" e de um "deus" para se apegar. O negócio é a fé e a fé por completo, sem fanatismos e lavagem cerebral.
Por sorte, por acidente ou por apenas coincidência, a vida colocou pessoas que me fazem sentir um pouco mais completa. E com isso, uma menina muito especial tem me enviado e-mails quase que diariamente falando de incentivos e realmente se preocupando com o meu bem-estar. Quase todos os dias paro para ler o que ela tem a me dizer e num outro dia resolvi desabafar e contar sobre meus problemas e meus desafios.
Por mais que eu tenha amigos ou conhecidos de longa data, conversar com quem não está presente diretamente na minha vida deve ter um bom efeito. De suposições e críticas a gente precisa manter distância. E é mais ou menos como confessar.
Acredito que estamos ficando cada vez mais egoístas quando alguém precisa conversar um pouco. Apenas só ouvir já é o suficiente, não precisa selar a conversa com um sermão ou conselho. Ouvir, precisamos mais disso. Saber ouvir.
“Imagine-se empilhando uma folha de papel bem fina, uma sobre a outra, a cada dia. No início, vai parecer que essa pilha em nada aumentou. Mas, se continuar juntando as folhas dessa maneira, durante dez ou vinte anos, a pilha de folhas ficará tão alta que se tornará visível a qualquer um. De modo semelhante, podemos acumular muitos benefícios imperceptíveis por meio de nossa prática budista.” 
Um de nossos mestres orienta: “O inverno nunca falha em se tornar primavera.”
Preciso voltar, ou apenas ser eu de novo. E mesmo com esse tom de autoajuda, alguma coisa surte efeito.
E também não posso garantir que eu fique animada todo dia. Porque não é bem assim...
Dias sim, dias não. Hoje foi o "não". E cada dia que passa, dificulta.

Dona Daysi

Foi um dia que não começou bem. Demorei a levantar da cama reclamando de dor na coluna e já com dor de cabeça. Preocupações sobre a vida e minhas decisões rondando meus pensamentos em alta velocidade. Uma preguiça sem tamanho para dar continuidade nesse 1º de Agosto. 

Pois bem, que eu me levantasse da cama, tomasse o banho mais demorado possível e desligasse a mente que já estava a milhão, preparasse meu chá de morango e bebericasse acompanhando o pão velho e torrado com margarina Becel: meu dia precisava começar de qualquer jeito, mesmo com uma barra em mãos pedindo para ser forçada. E o fiz. Forcei a barra para que meu dia começasse.

Visto minha roupa branca e saio às pressas para o trabalho - sempre tropeçando nos tapetes com os dizeres de "bem vindo" dos apartamentos que nunca entrarei. Ironicamente, em frente ao meu, coloquei uma borboleta. Chamo o elevador e para a minha "sorte", os três que poderiam muito bem parar no meu andar primeiro de todos os outros andares, resolvem subir ao 14º só de pirraça e me forçando imediatamente a soltar o primeiro "bom dia" pra uma pessoa que sequer teve coragem de responder dentro do elevador. Enfim, a portaria. A portaria com a senhora que faz questão de chamar todas as jovens de "biscatinha" (sim, a velha e louca do 2º andar que atrasa a vida de quem precisa chegar cedo no serviço levando quase 2 minutos pra conseguir entrar no elevador - no 2º andar. Me desculpem, mas atrapalha.) (onde estava?) Sim, a senhora estava parada em frente ao portão principal com sua bengala, ocupando o espaço que eu poderia passar em menos de 1 segundo, tornando-se quase 3 minutos porque ela não queria que ninguém passasse por lá se não ajudasse a atravessar a rua (literalmente, uma velhinha de parar o trânsito, visto que quando ela decide atravessar, o farol consegue fechar 2x e ela faz o trânsito parar até que ela atravesse).

Enfim, obstáculo solucionado, hora de subir a ladeira sem nenhum outro aborrecimento no caminho. A não ser me aborrecer com meus próprios pensamentos malucos sobre essa loucura que é viver - em todos os sentidos. Bobagem, viver já tem todos esses sentidos, mesmo...

Chego no trabalho faltando 5 minutos para bater o cartão e ficar com a cara lavada, como se tivesse acabado de levantar da cama... Maldita hora em que acostumei as pessoas a me verem maquiada!
Eis que olho a agenda de clientes e uma senhora muito querida chamada Daysi está marcada para o primeiro horário. Daysi é uma senhora com mais de 70 anos que não usa bengalas e é dona dos mais lindos e lisos cabelos grisalhos que eu já vi em toda a minha vida. A Dona Daysi lecionou por mais de 30 anos na Zona Leste e hoje usufrui da aposentadoria morando em um flat próximo da Av. Paulista. Viúva, mãe de 2 filhos, bisavó e com uma saúde de dar inveja. Diferente da senhora mal educada do 2º andar.

Para atender a Dona Daysi, preciso delicadamente deitá-la no lavatório e usar shampoo desamarelador. Aquele shampoo arroxeado que geralmente quem tem cabelos grisalhos usa. Daí então, perguntei como havia sido sua semana e comecei a me queixar que não estava num dia muito bom e que há dias eu estava desanimada comigo mesma. Papo vai, papo vem, ela pergunta sobre meus hobbies e percebo que os larguei há muito tempo. E há muito tempo não tenho me empenhado em aprender nada que não seja relacionado ao trabalho. Passo então a contar que tenho instrumentos musicais que mais enfeitam minha parede que são usados para o que realmente servem e que também tenho uma grande frustração: eu não sei nadar.

Eu não sei nadar!

Eu tenho 27 anos e não sei nadar!

Então, uma frase mágica de Dona Daysi foi até meus ouvidos e me fez sentir vergonha de mim mesma: 

- Eu aprendi a nadar com 50 anos, Nataly! Vá, você é jovem. Aprenda a nadar, é tão gostoso!

E, então... E... então... que eu acabei de me matricular no SESC e aos 27 anos eu vou finalmente aprender a nadar.

Sim, são meus pés :)

Casa vazia

Bem que devia ter sido poesia
Mas a palavra da boca não mais saía
Bem como a casa vazia
E naquele momento em que partia
Bem que devia ter sido poesia

Bem que deveria ser poesia
Nos lençóis que envolvem minha cama fria
A minha cabeça cheia de anomalia
Criando e vestindo uma luxuosa fantasia
Que mal cabia
E mal vestia
Porque a fantasia sequer existia
Bem que deveria ser poesia

Nem tudo é como a poesia transcreve



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