Dona Daysi

Foi um dia que não começou bem. Demorei a levantar da cama reclamando de dor na coluna e já com dor de cabeça. Preocupações sobre a vida e minhas decisões rondando meus pensamentos em alta velocidade. Uma preguiça sem tamanho para dar continuidade nesse 1º de Agosto. 

Pois bem, que eu me levantasse da cama, tomasse o banho mais demorado possível e desligasse a mente que já estava a milhão, preparasse meu chá de morango e bebericasse acompanhando o pão velho e torrado com margarina Becel: meu dia precisava começar de qualquer jeito, mesmo com uma barra em mãos pedindo para ser forçada. E o fiz. Forcei a barra para que meu dia começasse.

Visto minha roupa branca e saio às pressas para o trabalho - sempre tropeçando nos tapetes com os dizeres de "bem vindo" dos apartamentos que nunca entrarei. Ironicamente, em frente ao meu, coloquei uma borboleta. Chamo o elevador e para a minha "sorte", os três que poderiam muito bem parar no meu andar primeiro de todos os outros andares, resolvem subir ao 14º só de pirraça e me forçando imediatamente a soltar o primeiro "bom dia" pra uma pessoa que sequer teve coragem de responder dentro do elevador. Enfim, a portaria. A portaria com a senhora que faz questão de chamar todas as jovens de "biscatinha" (sim, a velha e louca do 2º andar que atrasa a vida de quem precisa chegar cedo no serviço levando quase 2 minutos pra conseguir entrar no elevador - no 2º andar. Me desculpem, mas atrapalha.) (onde estava?) Sim, a senhora estava parada em frente ao portão principal com sua bengala, ocupando o espaço que eu poderia passar em menos de 1 segundo, tornando-se quase 3 minutos porque ela não queria que ninguém passasse por lá se não ajudasse a atravessar a rua (literalmente, uma velhinha de parar o trânsito, visto que quando ela decide atravessar, o farol consegue fechar 2x e ela faz o trânsito parar até que ela atravesse).

Enfim, obstáculo solucionado, hora de subir a ladeira sem nenhum outro aborrecimento no caminho. A não ser me aborrecer com meus próprios pensamentos malucos sobre essa loucura que é viver - em todos os sentidos. Bobagem, viver já tem todos esses sentidos, mesmo...

Chego no trabalho faltando 5 minutos para bater o cartão e ficar com a cara lavada, como se tivesse acabado de levantar da cama... Maldita hora em que acostumei as pessoas a me verem maquiada!
Eis que olho a agenda de clientes e uma senhora muito querida chamada Daysi está marcada para o primeiro horário. Daysi é uma senhora com mais de 70 anos que não usa bengalas e é dona dos mais lindos e lisos cabelos grisalhos que eu já vi em toda a minha vida. A Dona Daysi lecionou por mais de 30 anos na Zona Leste e hoje usufrui da aposentadoria morando em um flat próximo da Av. Paulista. Viúva, mãe de 2 filhos, bisavó e com uma saúde de dar inveja. Diferente da senhora mal educada do 2º andar.

Para atender a Dona Daysi, preciso delicadamente deitá-la no lavatório e usar shampoo desamarelador. Aquele shampoo arroxeado que geralmente quem tem cabelos grisalhos usa. Daí então, perguntei como havia sido sua semana e comecei a me queixar que não estava num dia muito bom e que há dias eu estava desanimada comigo mesma. Papo vai, papo vem, ela pergunta sobre meus hobbies e percebo que os larguei há muito tempo. E há muito tempo não tenho me empenhado em aprender nada que não seja relacionado ao trabalho. Passo então a contar que tenho instrumentos musicais que mais enfeitam minha parede que são usados para o que realmente servem e que também tenho uma grande frustração: eu não sei nadar.

Eu não sei nadar!

Eu tenho 27 anos e não sei nadar!

Então, uma frase mágica de Dona Daysi foi até meus ouvidos e me fez sentir vergonha de mim mesma: 

- Eu aprendi a nadar com 50 anos, Nataly! Vá, você é jovem. Aprenda a nadar, é tão gostoso!

E, então... E... então... que eu acabei de me matricular no SESC e aos 27 anos eu vou finalmente aprender a nadar.

Sim, são meus pés :)

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